«Renovar pela transformação do Espírito»
[Ef 4, 23]
Deixarmo-nos "renovar pela transformação do Espírito" tem sido o tema bíblico inspirador do nosso caminho pastoral diocesano de há um ano a esta parte. Sabemos que colocar-nos sob a guia transformadora do Santo Espírito de Deus é um caminho exigente e longo. Mas só assim poderemos transformarmo-nos e ser, de facto, a Igreja fiel ao ser, ao agir e ao mandato do Mestre. O último Ano Pastoral foi o início de um caminho que já vai dando sinais claros de que, partindo sempre do Senhor, vamos encontrando vias sempre novas para nos convertermos na docilidade ao Espírito Santo e para partir com renovado ardor ao encontro daqueles a quem, em nome de Jesus, somos enviados a propor a Vida em abundância. Sinal maior dessa transformação é a Nova Reestruturação da Pastoral Paroquial em chave Missionária que, a partir deste ano, todos somos chamados a compreender e implementar, como instrumento que pretende empreender um novo dinamismo evangelizador onde todos e cada um dos batizados se devem sentir incluídos. Não se pode tratar de mais uma tentativa, nem podemos cair na tentação de pensar que é um mero projeto humano, fruto da iniciativa de alguns: é de todos, precisa de todos e depende de todos, porque a Igreja é um Corpo, o de Cristo, onde todos os batizados são membros integrantes e inalienáveis.
Deste modo, o Programa Pastoral que nos tem acompanhado e orientará o nosso caminho comum como Igreja diocesana nos próximos dois anos, reveste-se daquele sentido a que o Papa Francisco nos desafiou e continua a desafiar a partir da Evangelii Gaudium: «Espero que todas as comunidades se esforcem por empenhar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma "simples administração"» (EG 25). Este é, igualmente, o sentir da nossa Diocese, auscultada nos seus mais diversos organismos de participação e corresponsabilidade eclesial, com a certeza de que «toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação» (UR 6). Neste sentido, a nossa Diocese tem procurado fazer destes três anos que estamos a viver, um tempo intenso de renovação, aproveitando para tal o forte impulso e entusiasmo da Jornada Mundial da Juventude, bem como o dinamismo do Sínodo dos Bispos, ambos a acontecer no próximo ano de 2023, ano central do nosso Triénio Pastoral. Aliás, a este respeito, importa sublinhar que a Jornada Mundial da Juventude deve ser entendida como um acontecimento eclesial transversal a toda a ação pastoral da nossa Diocese e não um evento fechado em si mesmo. Por isso, dever-se-á procurar fazer dela uma oportunidade para envolver todos, de modo que os seus frutos se estendam para lá do ano da sua realização.
Assim, para que estes nossos desejos e objetivos, fruto da ação do Espírito Santo, possam chegar a uma real concretização, é imprescindível que todos nos sintamos empenhados e envolvidos em levar por diante esta missão. Como nos diz o Papa Francisco, «cada um dos batizados, independentemente da sua função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados, enquanto o resto do povo fiel seria apenas recetor das suas ações. A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados» (EG 120). Deste modo, todos nós (bispo, padres, diáconos, consagrados e leigos) devemos sentir-nos, desde já, chamados a ser portadores e protagonistas desta missão diocesana em tornar possível esta urgente e necessária «renovação pela transformação do Espírito» (Et 4,23). Para isso, importa primeiramente, que cada um se sinta e se coloque interiormente disponível para viver um sincero caminho de conversão pessoal (onde Cristo é o centro de tudo), aderir à proposta de um caminho sinodal de discernimento e ação pastoral e sentir-se parte de um inadiável processo de conversão pastoral da nossa Igreja diocesana. «O mundo, em que vivemos e que somos chamados a amar e servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todas as áreas da sua missão. O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio» (Papa Francisco, 17/X/2015). Assim, só na medida em que todos nos sentirmos implicados e motivados, bem como agentes ativos que convocam e motivam os demais membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja, conseguiremos robustecer o tecido comunitário das nossas comunidades para, juntos, fazermos este necessário caminho de renovação.
No discernimento realizado entre nós, pelos vários organismos diocesanos, destacaram-se algumas realidades que se devem tomar como prioritárias e centrais na nossa ação eclesial no decurso do próximo Triénio Pastoral. Porém, pela razão de se considerarem que estas são prioritárias, não se deve deduzir que as demais realidades ficam anuladas, esquecidas ou sem espaço para se lhes dar a normal atenção pastoral. Todas devem continuar a ser objeto da nossa atenção (até porque todas se relacionam e implicam entre si), mas entre elas destacam-se as que abaixo, agora, se assinalam.
Os jovens, desde sempre, foram alvo de muita atenção e cuidado no seio Igreja. Contudo, o Sínodo dos Bispos de 2018, veio reforçar a importância de um olhar atento e de uma ação pastoral mais centrada neles. Junta-se a isto, a feliz escolha de Lisboa como lugar onde se realizará a Jornada Mundial da Juventude de 2023. Assim, atenta a todos estes sinais e à sua própria realidade, a Igreja diocesana do Algarve sente que os jovens devem ser o ponto central da sua atenção e ação pastoral nos próximos anos. Neste sentido, tendo presente os desafios da Exortação Apostólica Christus vivit e o sentir diocesano, são apontadas como metas:
a) Favorecer um caminho de conversão que passe duma Pastoral Juvenil para os jovens para uma Pastoral Juvenil com os jovens, onde eles mesmos, acompanhados pelas comunidades cristãs e seus animadores, sejam protagonistas do seu caminho de fé que leve a uma integração na vida da comunidade paroquial;
b) Promover a comunhão e unidade de trabalho entre os setores e movimentos que têm os jovens como centro do seu agir: Pastoral Catequética, Pastoral Juvenil, Pastoral Universitária, Pastoral Escolar (EMRC), Pastoral Vocacional e Pastoral Familiar, Corpo Nacional de Escutas, Movimento dos Convívios Fraternos, entre outros;
c) Aproveitar o entusiamo do caminho rumo à JMJ2023, para recuperar um dinamismo de ação e coordenação em rede na pastoral juvenil, em toda a diocese: Equipas Paroquiais, Equipas Vicariais e Equipa Diocesana;
d) Promover, ao longo do Triénio, oportunidades de formação para Animadores de Pastoral Juvenil, bem como de processos formativos de Lideranças Juvenis, que possam repercutir-se numa renovação eclesial no pós-JMJ 2023;
e) Tornar a dimensão vocacional transversal a toda a ação pastoral com jovens, em resposta ao Biénio Vocacional da Província Eclesiástica de Évora;
f) Recuperar as linhas fundamentais da Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, como importante meio para levar aos jovens temas que lhes são tão caros como a Casa Comum, a Ecologia, a Dignidade Humana, a Criação como dom, entre outros. Não podemos considerar secundárias estas temáticas, pois nelas proliferam outras visões;
g) Continuar a motivar e proporcionar tempos de oração que envolvam os jovens na dimensão da espiritualidade, tão importante e imprescindível, para o crescimento e fortalecimento da fé;
h) Oferecer maior atenção aos casais e famílias jovens nos seus primeiros anos de matrimónio, procurando integrá-los num percurso de redescoberta da fé que os leve à integração comunitária paroquial.
Missão da Igreja de todos os tempos, a evangelização encontra na Iniciação Cristã e na redescoberta e aprofundamento da fé duas vias fundamentais. Por isso, a Diocese do Algarve sente que há necessidade de renovar um maior empenho na Iniciação Cristã e na capacidade de criar estruturas e processos que possibilitem a (re)descoberta e/ou aprofundamento da fé. Para isto, impele-nos o nosso maior dever de anunciar e propor Jesus Cristo a quem ainda não O conhece e anima-nos a esperança de que deste empenho brotará um conjunto de frutos que desejamos ver surgir: o encontro pessoal com Cristo, a renovação das comunidades cristãs e a revitalização de serviços e ministérios a partir de uma vida de fé renovada. Assim, este Triénio Pastoral aponta como caminho necessário a fazer:
a) Revitalizar o Catecumenado de Adultos nas várias paróquias da Diocese, como resposta a um prévio dinamismo de proposta de fé a quem não crê e ainda não recebeu os Sacramentos da Iniciação Cristã;
b) Implementar e reforçar os grupos de catequese e aprofundamento da fé para adultos, propondo-os como caminho necessário, quer para os cristãos que já participam na vida comunitária quer para aqueles que ainda não estão devidamente integrados;
c) Apostar num estilo de Catecumenado e de Catequese para Adultos que seja mais vivencial e orante (menos doutrinal e intelectual), tendo como paradigma o Catecismo da Igreja Católica, e no qual a Palavra de Deus seja o principal "instrumento" neste caminho de fé a percorrer;
d) Promover formação específica para Catequistas vocacionados a acompanhar adultos, sejam eles Catecúmenos ou cristãos que desejem aprofundar a sua fé em estilo de Iniciação Cristã;
e) Gerar um maior acompanhamento e relação do Sector Diocesano da Educação da Fé dos Adultos com as paróquias, visando maior apoio onde for necessário, bem como a promoção de itinerários e critérios comuns para o Catecumenado.
O cuidado pela vida espiritual dos cristãos da nossa Diocese, após a experiência e os bons frutos do último Triénio Pastoral, deve continuar a ser dinamizado de modo prioritário. É unânime a constatação de que, uma aposta na formação cristã demasiadamente doutrinal-intelectual e desligada da vida interior, remeteu para um plano secundário a dimensão espiritual. No entanto, esta deve ser a dimensão fundamental que, devidamente alimentada e favorecida a partir de tempos de verdadeiro encontro com Deus, dá unidade a todas as dimensões que constituem a vida cristã pessoal e familiar. Deste modo, a nossa Diocese sente que neste âmbito, o caminho deverá passar por:
a) Fomentar uma espiritualidade marcada pelo Primado da Palavra de Deus: recuperar os grupos e promover formação para os animadores de grupos de Lectio Divina, promover as Oficinas de Oração, fomentar a compreensão e oração da Liturgia das Horas comunitária e individualmente, entre outros;
b) Continuar e aumentar a realização de tempos fortes de espiritualidade: Retiros, Exercícios Espirituais, Encontros de Espiritualidade, Retiros pre-paratórios para a receção dos Sacramentos (Confirmação), entre outros;
c) Continuar a desenvolver e apoiar a Espiritualidade Familiar na senda do que foi a experiência vivida durante os tempos de confinamento, pois muitos referiram como frutuosa a vida de oração em família;
d) Imprimir nos grupos de Catequese uma maior dinâmica que favoreça a vida espiritual de encontro interior com Deus: iniciação à vida de oração (pessoal e comunitária), tempos de oração, momentos de adoração eucarística, celebrações da fé em grupo de catequese, entre outros.
Com o objetivo de imprimir um novo estilo de dinamismo e liderança pastoral nas comunidades cristãs com uma acentuada marca ministerial-laical, é indispensável que se proporcione uma específica e apurada formação, como complemento às alíneas anteriores:
a) Realizar um novo Curso Básico de Teologia, com recurso simultâneo às plataformas digitais e aos encontros presenciais;
b) Organizar formação específica para os leigos, a desenvolver pelos secretariados/sectores próprios em coordenação com a Pastoral Diocesana, com a finalidade de fomentar a liderança e animação comunitárias, revitalizar os ministérios e serviços, bem como a criação de equipas de evangelização;
c) Promover encontros formativos para as Equipas de Acolhimento, surgidas com a pandemia, cujo serviço deve continuar no acolhimento às assembleias dominicais;
d) Continuar a promover as Jornadas Diocesanas nas diversas áreas (Bíblica, Litúrgica, Sócio-Caritativa e Pastoral) nas quais se dê prossecução ao aprofundamento de temas e objetivos presentes no Programa Pastoral;
e) Renovar e atualizar a formação dos cristãos que já exercem ministérios e serviços nas comunidades cristãs.
A pandemia, com os muitos sofrimentos que trouxe, veio igualmente relembrar-nos como todos somos necessários na construção da nossa Sociedade e da Igreja. Assim, no mundo atual em que vivemos há que saber harmonizar de modo equilibrado a vida pessoal com a vida comunitária, a vida digital com a vida presencial, a vida típica de cada instituição com uma vida onde todos nos sentimos parte uns dos outros para melhor servirmos a todos. São imensos, por isso mesmo, os desafios que esta pandemia veio colocar a todas as pessoas e instituições, onde nós, o Povo de Deus, não podemos ficar de fora. Por isso, abaixo se enumeram os desafios que foram mais sublinhados como urgentes a enfrentar:
a) Mundo digital: o recurso às plataformas digitais proliferou e tem sido uma via fundamental para dar continuidade à missão da Igreja. Considera-se que este caminho já percorrido não deve regredir nem ser esquecido. Assim, sabendo que ao nível celebrativo o uso das plataformas digitais deve ser suspenso, as demais iniciativas (sobretudo ao nível da formação, jornadas e/ou conferências e também algumas ações ao nível da pastoral profética) devem continuar a ser promovidas, com a necessária qualidade. A presença da Igreja nestes meios é indispensável para o anúncio da fé em Cristo;
b) Diálogo com a sociedade civil: a pandemia foi uma oportunidade no que se refere ao diálogo e trabalho conjunto entre a Igreja e um conjunto de Instituições e pessoas que, não sendo cristãs, se tornaram fundamentais para a Igreja compreender como ser parte integrante da solução de um grave problema. Na verdade, é também a partir deste diálogo e trabalho conjunto que a Igreja pode compreender melhor o Homem e o mundo de hoje, e responder com aquilo que lhe é próprio, aos desafios da contemporaneidade. Assim sendo, é importante que, ao nível paroquial e diocesano, não se perca este permanente diálogo com a sociedade civil (pessoas e instituições). Antes pelo contrário, deve-se procurar fomentar plataformas e estruturas de diálogo, reflexão e trabalho comum;
c) A paróquia como comunidade sinodal: é cada vez mais urgente modificar o estilo de vida comunitária paroquial, que passe de uns poucos que decidem e fazem tudo, para o envolvimento de todos na ação comunitária. O futuro dinâmico e rejuvenescido das nossas comunidades depende, em grande parte, da capacidade de envolver e corresponsabilizar os seus diversos membros na avaliação/auscultação, na programação/ decisão e na ação/ministerialidade;
d) Redescoberta, renovação e revitalização dos Ministérios e Serviços: é um dever concretizar novos modos de sermos e vivermos em Igreja. Assim, há que dar o devido lugar aos batizados-leigos, não por falta ou incapacidade dos Ministros Ordenados, mas por direito e como resposta à vocação batismal. Por isso, rejeitando as escolhas esporádicas e ocasionais, é importante empreender um caminho de discernimento contínuo a respeito dos ministérios, carismas e serviços a que os cristãos de cada comunidade possam estar vocacionados;
e) Habitar o sofrimento: a solidão, o isolamento, os traumas e as consequências interiores da pandemia exigem que se esteja profundamente atento e se crie um ministério de acompanhamento destas vidas e situações. A ação caritativa para fazer face às consequências negativas materiais que surgiram em muitas vidas é urgente; mas não é menos importante fazer face às consequências negativas provocadas na vida interior de muitas pessoas. Cada comunidade poderia promover um serviço/equipa para acompanhar especificamente estas situações.
Como membros da Igreja universal, somos chamados a manifestar e viver uma plena comunhão com a mesma não só no que respeita às verdades da fé, mas também no percurso e agir pastoral que na mesma Igreja vai sucedendo. Ora, esse agir pastoral, cheio de acontecimentos, torna-se simultaneamente um desafio, uma motivação e uma esperança. Assim, somos chamados a ter presentes, na nossa programação diocesana, vicarial e paroquial, três importantes acontecimentos eclesiais, nos quais somos desafiados a envolver-nos com entusiasmo e dedicação.
a) Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Lisboa;
b) Biénio Vocacional da Província Eclesiástica de Évora;
c) Sínodo dos Bispos de 2023: «Por uma Igreja sinodal»;
d) Ano "Amoris Laetitia" (a decorrer até Junho de 2022);